domingo, 28 de fevereiro de 2021

O Sétimo Selo - Ingmar Bergman

Por: David Vega.


O diretor, produtor e escritor sueco Ingmar Bergman, em 1957, lançou o filme do qual o projetaria como o cineasta do século na visão de muitos: “O Sétimo Selo” (Det Sjunde Inseglet), obra prima do neo-expressionismo, estrelando o ainda jovem Max Von Sydow, baseado na peça de teatro homônima, também de sua autoria.

Bergman nasceu no ano do término da Primeira Guerra Mundial, em 1918, e falecido em 2007, ele teria tido problemas com o fisco em sua terra natal, emigrando então para a Alemanha. No período de sua juventude, junto de seu pai, que era pastor protestante, chegou a ver um comício do próprio Adolf Hitler, episódio que o marcou profundamente e muito provavelmente serviu de material para outro filme célebre, “O Ovo da Serpente”, do qual em breve também irei escrever sobre.

O Sétimo Selo é um filme que trabalha a eterna discussão sobre a existência ou inexistência de Deus. A profundidade sobre um suposto silêncio divino que os materialistas e céticos dizem existir, todo este questionamento se dá pelo retorno de um cavaleiro cruzado, Antonius Block, aborrecido pela situação que encontra na terra santa, o que faz ele questionar o cristianismo e a fé quando regressa a uma Europa devastada pela peste bubônica.

O guerreiro então quer ter contato em pessoa com Deus, dialogar com esta entidade divina. O Sétimo Selo traz a ideia do apocalipse, escrito pelo evangelista João, sobre um castigo que vem de cima, a penalidade à banalidade humana, a revelação final. Mediando estes questionamentos de Block, não seria Deus que se revelaria em seu íntimo, este continua em silêncio, mas sim a figura materializada da morte, igual ao folclore de sua aparência, com o capuz, mas sem a caricata foice. O mundo de Block é desprovido de sentido, e ele passa a desafiar a figura da morte, inclusive em uma partida de xadrez - talvez a cena mais conhecida do filme.


    

    Bergman usa a ideia também de idealismo x realismo, na figura do escudeiro do cruzado renegado, que muito lembra o personagem Sancho Panza de Cervantes em “Don Quixote de la Mancha”. Para quem não lembra, o fidalgo quixotesco idealiza as novelas de cavalaria enxergando moinhos como gigantes, uma donzela, Dulcinéia, que é uma mulher da vida de um vilarejo popular. No fundo, Sancho sabe que é um delírio de seu mestre, mas há momentos em que ele fica entre a crença no que Don Quixote diz, e sua razão que vê a realidade, muito disso pela promessa de uma ilha que lhe prometera o cavaleiro da triste figura. No filme de Ingmar, o cavaleiro é um produtor de teoria, de abstração, de questionamento “um pensador” - um questionador, cuja perda de fé é brilhantemente metaforizada em uma outra cena conhecida, em que o cruzado conversa com a morte no confessionário de uma igreja, tendo a figura icônica encapuzada no lugar do padre. Isso nos diz que a religião e a igreja estão esvaziadas, e precisou se utilizar do medo para manter o status quo, vide o que veio após, até mesmo perdurando o início da Idade Moderna: a inquisição. Enquanto o escudeiro, é um conformado, alguém satisfeito com a vida e que não se preocupa com o sentido da mesma (ou a falta de).    

    Há momentos de alegria também, como na cena em que Block e os demais personagens desfrutam de um piquenique, simbolizando que na vida também existem surtos de felicidade, mesmo sendo ela em sua amplitude o eterno sofrimento do vazio, esvaída de propósito. Quando a morte começa a levar os personagens, no momento do limite, Block, que perdera a fé, recorre a ela quando percebe que a sua hora se aproxima. O cineasta brinca com a ideia do que popularmente se fala: “Não existem ateus quando o avião está caindo”, mas eu diria que a fé não se resume só ao transcendente, à entidade fora do universo, somos imanentes, e ela pode ser horizontal, a fé na humanidade, a fé na natureza (panteísmo ou animismo). Quando dizemos que um povo tem fé, como o brasileiro ou o argentino, isso pode ser tanto em santos quanto em uma equipe de futebol.

     O filme também tem uma outra cena conhecida, a dança da morte. A abertura de cada selo, segundo a bíblia, representa um desastre para a humanidade, sendo o último deles (o sétimo) o fim dos tempos de forma irreversível. Por isso Bergman escolheu a frase antes de iniciar a trama:

“E havendo o Cordeiro, aberto o sétimo selo, fez-se silêncio no céu quase por meia hora”. Apocalipse (8:1).

    O cineasta cria um enredo no qual, no encerramento do filme, os personagens são conduzidos pela morte de mãos dadas, dançando. Talvez em referência à Danse Macabre, usualmente pintada em afrescos de igrejas na Idade Média.

Também é trabalhada a ideia da “sagrada família”, no núcleo familiar de um dos ciganos artistas circenses que aparece na caravana que Block acompanha, sendo a única que se firma diante da morte. Se Deus existe, ele se manifesta pela união familiar, e não é uma entidade inalcançável. A ideia me pareceu bem convincente, de fato delegamos Deus a uma instância que está fora de nós, para “além da física”, mas a divindade se encontra em qualquer detalhe de nossa rotina, podendo “Deus” ser o homem, na minha visão, desprovido de sentido ou não, somos nós os protagonistas de nossas vidas, e em meio a um céu vazio, permaneceremos em pé ante as ruínas, quando o sétimo selo for aberto. 

Recomendo este clássico!

 

Longe dos Homens - (David Oelhoffen)

Por: David Vega.


Dica de filme: “Longe dos Homens”, do diretor David Oelhoffen. A trama se passa na Argélia de 1954, durante a guerra de independência, o ator Vigo Mortensen vive um pacato professor de uma aldeia, sua origem é andaluza, e em meio ao conflito, ele é considerado “árabe demais” para os franceses e “francês demais” para os argelinos. Dividido entre esses dois mundos, parte em uma jornada para ajudar um amigo árabe, Mohammed (Reda Kateb), partir para um vilarejo distante, pois o mesmo teria sido jurado de morte devido vinganças motivadas por brigas familiares.

Durante essa jornada, além de descobrir uma grande amizade, os dois se deparam com guerrilheiros argelinos e o próprio exército colonial francês, onde podemos aprender um pouco sobre o conflito que é o pano de fundo dessa história incrível. Minha modesta leitura é, que não foi por acaso que o roteirista escolheu retratar a amizade entre um colono europeu de uma nação rival da França (no caso a Espanha) e um árabe rejeitado pelos argelinos, a união destes dois simbolicamente representa uma nova Argélia, a mão branca apertando a mão moura, porém ambas mãos seriam aquilo que havia sido expurgado tanto do mundo europeu quanto do africano, eles seriam os “moderados” que promoviam uma união entre essas nações, o que seria a resultante desse embate nos dias atuais, tanto em uma Argel repleta de franceses quanto uma Paris mouresca, onde existem argelinos de olhos claros e franceses morenos, integrando dois mundos que tem mais em comum do que imaginam.

Não é por acaso também, que o personagem de Vigo Mortensen é um professor que leciona História para crianças árabes, tanto no idioma local quanto em francês, e as poucas cenas que aparece ele na classe, mostra uma aula com um conteúdo de integração, o mesmo fala dos gauleses, mas também das primeiras sociedades que tinham a grafia, na Mesopotâmia e no Egito, locais dos quais o norte da África descende (além dos persas).

Daru (Mortensen) não concorda com a guerra e se sente totalmente deslocado. A polícia questiona sua lealdade , acreditando que ele pode ser um traidor disfarçado. O conflito foi durante o regime autoritário do General DeGaulle, herói da resistência francesa durante a Segunda Guerra Mundial, mas que centralizou a república após o conflito. É bem verdade que a URSS, assim como viria a fazer com Angola e Moçambique, apoiou grupos guerrilheiros argelinos na intenção de proclamarem uma independência com viés socialista, o que não ocorreu. A França e a Argélia tem uma proximidade não apenas histórica e geográfica, mas de espírito, não obstante o maior contingente da Legião Estrangeira seja de norte-africanos com dupla nacionalidade.

O filme é baseado no conto “O Hóspede”, do francês de origem argelina Albert Camus. Realmente surgiram duas guerras, uma contra o domínio imperialista francês e outra entre os dois partidos revolucionários argelinos. Seu principal partido era o FLN, e os franceses ali estavam desde 1830, um país marcado pelos ataques em massa, façanhas terroristas de ambos os lados, como método arbitrário, torturas da polícia secreta francesa. Os métodos desumanos contra argelinos foram escondidos da população francesa, que seria claramente contra as crueldades, visto que o movimento por Direitos Humanos e o pacifismo ganharia notoriedade na década seguinte durante a Guerra do Vietnã. O governo francês censurou vários jornais e meios de comunicação para esconder a verdade.

O FLN venceu, tendo a França que reconhecer a independência da Argélia em 5 de julho de 1962. Eu estive em Paris no ano de 2019, em uma Sacre Coeur, Champs Élysées ou no bairro Lafayette onde a população árabe rivaliza a local, em um país ponte entre o mundo de Aníbal e o de Carlos Magno, é ali que a cultura mescla impera, em um mundo que abole fronteiras, mas ainda caminha a passos lentos contra o racismo e a intolerância religiosa; que o filme simbolizando a parceria de Daru e Mohammed nos lembre que no Mediterrâneo há muito mais coisas que nos une do que separa.


sábado, 27 de fevereiro de 2021

México Insurgente - John Reed

Por: David Vega



    Clássico do jornalismo político. John Reed, nascido no Óregon, foi antes de Hemingway o maior correspondente de guerra. Eu gosto mais do seu "México Insurgente" do que o mais famoso, "Os 10 dias que abalaram o mundo" (como correspondente na Revolução Russa). Ele relata em 1914 o que acarretou a queda de Porfírio Diaz, os grupos zapatistas que seriam o embrião da luta do subcomandante Marcos atualmente, e o jovem Pancho Villa, a reinvindicação de reforma agrária em um México que após a independência voltou à monarquia com o Habsburgo imperador Maximiliano sob a interferência de Napoleão.

    O livro relata os bastidores, os campesinos, é um belo exemplo de que se pode fazer uma obra prima a partir de relatos, a metonímia, da parte ao todo, e a História tem que ser contada por memórias de quem a viveu. O México, de longe tem uma tradição revolucionária muito mais avançada que a nossa, eles tiveram um Benito Juarez, de quem o pai de Mussolini, que era socialista, homenageou o filho (que ironia), somente um Prestes viria a ocupar cargo semelhante com a sua coluna, até surgir a figura mitológica do Che Guevara, este, aliás, tinha como favorita essa obra de Reed, e a leu quando estava no México, antes de conhecer Fidel, depois viria relê-la quando estava a caminho da luta no Congo. Uma outra América seria possível?

    Durante a conquista do México os astecas perguntaram a Cortés porque ele queria tanto ouro, e o mesmo respondeu que ele e seus homens tinham uma doença no coração que se curava com o metal. A riqueza para os astecas seria o cacau. Desde então duas visões sobre o país pairaram, a elite espanhola não era bem quista por Villa e seus guerrilheiros, pois há anos exploravam os mestizos com sua ganância. Nesta época da revolução muitos deles deixaram a América e voltaram à Europa. Depois da elite quatrocentona ibérica, os mexicanos teriam outros senhores, os ianques, que tomaram quase metade de seu território no século anterior.

    Antes, Francisco Madero, um revolucionário que iniciou a campanha contra o porfiriato (Porfírio Diaz, ditador que inspirou inclusive o cineasta Glauber Rocha em "Terra em Transe"), foi morto em 1913. Daí uma série de grupos insurgentes disputavam o poder, os mais radicais pediam a reforma agrária e o fim da propriedade privada, representados por Pancho Villa no norte e Emiliano Zapata no sul. O general Villa era conhecido como o “Coiote do Norte” pelos federais apoiados pelos EUA, outro grupo era o dos constitucionalistas, mais moderado, representados pelo futuro presidente Venustiano Carranza. A constituição mexicana, após a queda do ditador Porfírio e Victoriano Huerta, em 1917, quando foi promulgada, foi a primeira da História a incluir os chamados Direitos Sociais, dois anos antes da Constituição de Weimar. A nossa paulista de 1932, promulgada em 1934, seguia nessa linha, deu voto às mulheres e o ensino universal, mas foi sobrepujada pela “polaca” do Estado Novo varguista em 1937.

    Havia também os colorados, que lutavam por Huerta, combatidos por Villa, este que segundo uma passagem de Reed, não queria ser presidente, se considerava um guerreiro e não um político, sendo leal à Carranza, que apesar de constitucionalista, era aristocrata e não incluía a reforma agrária da forma que os revolucionários queriam, seria uma espécie de “Lafayette”, o aristocrata francês que apoiou a revolução contra a sua própria classe, com o tempo, o presidente Carranza passou a atender os interesses norteamericanos, armou seus empregados que trabalhavam em suas terras, feito um senhor feudal, então, Villa atacou a cidade de Columbus, em 1916, invadindo o território dos EUA. Os estadunidenses se referiam aos mexicanos como “greasers” (sebosos) e muito do preconceito em relação aos hispânicos vem desta época.

    A Constituição mexicana de 1917 foi a única que falava da questão da terra comunal, nos seus artigos 25 e 27. Mas em 1992 o governo neoliberal removeu esta cláusula da carta.

    Pancho Villa morre em uma emboscada dos ianques em 1923, levando vários tiros, na província de Chihuahua. John Reed chegou a entrevistar o grande general, há uma passagem clássica na versão do livro adaptada ao cinema, em que apresentam um general bigodudo de sombrero, fumando charuto, preocupado com a educação das crianças, muito embora ele próprio fosse analfabeto.

    Lembro de uma passagem do livro que me chamou a atenção também, quando ele está em um pueblo (aldeia), creio que junto de outro general, Obregón, e uma mexicana se insinua a ele. Os demais pistoleiros ficam irados por uma de suas mulheres estar dando mole a um gringo. Depois de algumas tequilas, Reed se deita com ela, mas a mesma não tira a sua roupa e não deixa que ele a beije, não acontecendo nada naquela noite. Então ela fala:

- Gosto de vocês gringos porque são limpos, por isso vim dormir contigo, mas sou muito fiel a meu marido!

    Reed fica sem entender nada, a mulher vai dormir com ele, mas permanece leal a seu homem, um dos revolucionários. Costumes incomuns, de aldeias arrasadas pela artilharia do governo e igrejas de paredes de adobe resistentes ao imperialismo que desde o Big Stick na guerra de Cuba visava transformar “o sul da fronteira” no quintal dos americanos.

    O livro me cativou mais do que os demais trabalhos de Reed, a versão cinematográfica Reds (Vermelhos) sobre sua atuação na Revolução Russa é mais bem feita do que a quase amadora “México Insurgente”, filme que mistura a narrativa documental com a ficção. Após a sua experiência na emergente União Soviética, Reed funda o Partido Comunista Americano, e embora seja um ícone da esquerda mundial, até hoje é controverso e não muito bem visto nos EUA. Está enterrado em Moscou.

    A gente vê estes correspondentes de guerra no Haiti ou na Síria hoje, com a câmera repórter e colete, se arriscando para conseguir a melhor imagem, e não imaginamos estes grandes escritores em conflitos como fez Orwell, Hemingway e Reed, em tempos que a arma não era apenas o fuzil, mas o traço de pena que deixaram para a posteridade, alimentando a imaginação de seus leitores por gerações, como a minha ao ler as suas façanhas na adolescência.  

A Poesia de Antonio Machado e a República

 Por: David Vega.


 

O poeta Antonio Machado nasceu em Sevilha no ano de 1875, mas cresceu em Madri. Estudou em Paris, conhecendo a literatura da época. “Soledades” foi sua primeira obra que reunia poemas, pouco depois da virada do século (em 1903). Machado pode ser considerado o precursor do Modernismo na Península Ibérica, importando as tertúlias dos cafés parisienses, quando instala-se em Sória como catedrático de francês e se casa com Leonor Izquierdo, que adoeceria e morreria em 1912. O grande poeta deixa o Douro para lecionar na capital, surgindo os belos versos à misteriosa “Guiomar”.

Ao eclodir a Guerra Civil, Machado foi viver em Valência fugindo de Madri sob pressão do governo, que queria assegurar que ele não sofresse o mesmo destino de outro artista intelectual espanhol, o dramaturgo Federico Garcia Lorca, assassinado pelos sublevados em Granada devido à sua inclinação ao anarquismo e outros fatores que o acusavam de imoral, por ser notoriamente homossexual. 

Em abril de 1938, Machado e sua família muda-se para Barcelona, a capital catalã era palco dos conflitos mais intensos, local berço do anarquismo e separatismo, sendo bombardeada pela Legion Condor nazista (inclusive a Catedral de Barcelona foi parcialmente destruída). Terminada a guerra, o poeta como tantos outros, cruzou os Pirineus e passou seus últimos dias em Collioure, no sul da França, exilado até seu falecimento.

O que poucos sabem é que Antonio Machado influenciou grandes nomes de nossa literatura. O Brasil é um país de imigrantes, com um contingente significativo de origem espanhola. Diferente dos demais europeus que se dedicaram à agricultura e pecuária, os espanhóis, quase que em sua totalidade galegos, viveram em centros urbanos como São Paulo, Rio de Janeiro e Salvador. A poesia de Machado viria impactar a nossa versão de modernismo. Inclusive Manuel Bandeira chegou a traduzir os versos de “Canção” e a escritora Cecília Meireles dedicou um poema a Antonio Machado, em seu livro “Mar Absoluto”.

As posições políticas de Machado se alinhavam com os crescentes movimentos de vanguarda brasileiros, tendo alguns de seus membros partido à Espanha para lutar contra o fascismo.

“Yo no me hubiera marchado, estoy viejo y enfermo. Pero quería luchar al lado vuestro. Quería terminar una vida que he llevado dignamente, muriendo con dignidad. Y esto solo podría conseguirlo cayendo a vuestro lado, luchando por la causa justa como vosotros lo hacéis”. (24 de novembro de 1936, no “Cuartel del V Regimiento”, horas antes de sair de Madrid para Valência).

Durante sua vivência na capital espanhola, mesmo antes do levante militar, como membro da Academia, Machado viveu a angústia dos primeiros passos do novo regime, tendo que lidar com progressistas radicais e monárquicos que queriam impedir os avanços da nova politica importada do liberalismo iluminista. Ele presenciou a tentativa de golpe tanto da esquerda, pelo general Goded, quanto da direita, do general Sanjurjo (este que faleceu em um acidente aéreo e após o acidente a liderança do levante ficou nas mãos de Francisco Franco). Não eram tempos para a moderação, em uma república enfraquecida, talvez mais vulnerável que a de Weimar, com corpos francos e milícias brigando nas ruas das grandes cidades e tentativas de golpes vindas de ambos os lados.

Antonio Machado, como intelectual, bem como Miguel de Unamuno, não se encaixava em nenhum bando, mas Manuel Azaña tentou utilizar a sua imagem politicamente, embora ele tecesse grandes críticas à Segunda República, para ele, os camisas azuis fascistas da Falange não se diferenciavam em muito dos pistoleiros bolchevistas, porém se manteve legalista durante o conflito.

“O fascismo é a força da incultura, da negação do espírito” – (Traduzido do espanhol, em seu discurso de maio de 1937 para as Juventudes Socialistas Unificadas) -  “Eu não sou marxista, nem nunca fui (…) vejo, no entanto, com inteira claridade, que o socialismo, em quanto que supõe uma maneira de convivência humana, baseada no trabalho, na igualdade dos meios concedidos a todos para a sua realização, e na abolição dos privilégios de classe, é uma etapa inexorável ao caminho da justiça”.

O grande poeta iria se decepcionar com as atitudes radicais dos comunistas, o que considerava injustificável combater a barbárie fascista pagando na mesma moeda com selvageria. Mas hoje ele é um ícone à República espanhola, ultrapassando até mesmo outros grandes intelectuais como Unamuno (que apoiou os militares no princípio, vindo a se arrepender) e Jose Ortega y Gasset, este que não pronunciou apoio nem crítica, e que com isso pôde viver no regime franquista, apesar de ter passado um tempo na Argentina.

Sobre a Guerra Civil, Machado tem os famosos sonetos em estilo modernista: “Soneto a Guiomar” e “El Crimen fue en Granada”, menção ao caso do Garcia Lorca, que ele tanto admirava. Não sou ávido leitor de poesias, mas fui introduzido ao mundo dos versos por Antonio Machado, talvez pela proximidade de sua figura, por ser também espanhol, ou por retratar a Guerra Civil, tema que sempre me interessou. Como brasileiro, filho de imigrante, faço essa ponte entre a Península e nosso país, ainda mais realizado em saber que grandes nomes de nossa literatura se inspiraram no talvez maior poeta espanhol, e tanto na terra de Cervantes quanto na de José de Alencar, seguimos sendo este múltiplo, inclinados ao amor pela liberdade, de um povo sofrido, que crê em Repúblicas mais justas, bem como defendia o poeta sevilhano.

sexta-feira, 26 de fevereiro de 2021

Nada de Novo no Front (Erich Maria Remarque) e Tempestades de Aço (Ernst Jünger)

Por: David Vega.



Após um longo período de paz, mesmo com as disputas entre Inglaterra, França, Bélgica e Alemanha no domínio da África e da Ásia, no final do século XIX e a sua influência na industrialização de países periféricos, como os da América do Sul (o Brasil seguiu na linha britânica e o Chile, bem como o Paraguai, até hoje possuem grande influência prussiana), a Alemanha havia se unificado há pouco, com Bismarck, e se encontrava no seu “Segundo Reich” (o nazismo foi o terceiro), rivalizando a Grã-Bretanha na hegemonia dos mares, tendo uma frota considerável, apesar de ser um país cuja única saída para o mar se dá pela estreita faixa do rio Reno, em comparação ao Reino Unido, uma ilha, nação marítima desde a Idade do Bronze.

Depois do assassinato do arquiduque Francisco Ferdinando, herdeiro do trono da Áustria-Hungria por um radical sérvio, a tensão entre germânicos e eslavos aumentou, tendo a Sérvia o apoio da Rússia e das democracias ocidentais (vale lembrar que o Czar Nicolau II era primo do Rei George da Inglaterra) e a Áustria era aliada da Alemanha. Então, em 1914, os alemães invadiram a Bélgica rumo à França, dando início à Primeira Guerra Mundial, quebrando esse longo período de paz. Os dois blocos se armaram, a Tríplice Entente e a Tríplice Aliança, envolvendo até mesmo o oriente, como o império otomano (Turquia).

A guerra de trincheiras mudou o paradigma da estratégia militar, antes disso, na Guerra de Secessão americana o próprio Ulysses S. Grant já dizia que o futuro da guerra não seria no campo, mas nas trincheiras. A vida nestes buracos era terrível. Condições insalubres, gases venenosos, ratos comendo cadáveres e inundações que causavam gangrenas no tempo de inverno. O conflito durou até 1918, e depois, inúmeros livros foram lançados, com relatos de ex-combatentes. Talvez os mais populares sejam “Nada de Novo no Front” de Eric Maria Remarque e “Tempestades de Aço” de Ernst Jünger, ambos alemães, mas com uma visão diferente do evento.

Remarque puxa mais para o lado pacifista, humanista do sofrimento do soldado, e Jünger é mais patriótico (embora tenha passagens em seu livro terríveis, que podem ser usadas para causa anti-bélica). Quando eu li o “Nada de Novo no Front” estava na sétima série, achei um exemplar da Editora Abril amarelado na biblioteca da velha escola do bairro, depois achei uma fita VHS na locadora perto de casa de uma adaptação cinematográfica de 1979, com Richard Thomas e Ernest Borgnine, só depois de assistir inúmeras vezes, até decorar as falas, fui saber que havia outra versão, preto e branca, dos anos 1930, mas ainda hoje prefiro a versão mais recente.

O livro de Jünger eu só fui achar a versão em inglês, foi lançada no Brasil uma pequena tiragem em 2017 pela extinta Cosac & Naify, mas já está esgotada. A que tenho é da Penguim Readers, de uma coleção dos clássicos estrangeiros.

    Eu gosto muito dos personagens de Remarque; Paul Baumer, o jovem sonhador que vive metido em desenhos e poemas, é influenciado por seu professor nacionalista a se alistar com seus colegas de classe. Toda a passagem do treinamento militar, pelo cabo Himmelstoss, o “terror de Klosterber”, que recebe uma pregação de peça dos garotos (como vingança à sua rigidez na instrução) antes de partirem para o front, é realmente envolvente. Logo que desembarcam do trem há um choque de realidade, que golpeia todo o romantismo da guerra, ao verem os feridos desembarcando em macas. Lá conhecem Kaczynski, um ancião veterano que representa uma figura paterna para Paul e sua turma.

Os relatos das condições insalubres, da violência dos ataques e contra-ataques, inspiram até hoje os filmes de guerra. O livro possui devaneios do protagonista que relativiza seu papel de “assassino”, Paul ao mesmo tempo que é um jovem amante das artes, da literatura, torna-se um brutal soldado cuja atitude é matar; no livro há uma passagem em que ele esfaqueia um francês escondido em uma cratera de morteiro, e ali filosofa de que se não fosse a guerra, seriam irmãos, na passagem humanista anti-guerra mais famosa da literatura.

Possuidor de uma sensibilidade retratada através das situações constrangedoras e delirantes, Remarque prioriza pôr o dedo na ferida para materializar com suas palavras toda a imbecilidade da guerra. Isso fica claro quando ele fala em relação ao estado de nervos dos soldados do front, sobre os soldados mortos na terra de ninguém, sobre o sentimento de não-pertencimento quando os soldados voltam à vida civil, a dificuldade de se encaixar em uma sociedade não beligerante onde homens convivem uns com os outros sem degolarem seus pescoços. Também metaforiza devaneios dos personagens, como uma passagem em que Kropp, um jovem praça raso, questiona o objetivo de tudo aquilo:

“No seu entender [de Kropp] uma declaração de guerra deve ser uma espécie de festa do povo, com entradas e músicas, como nas touradas. Depois os ministros e os generais dos dois países deveriam entrar na arena de calção de banho e, armados de cacetes, investiriam uns sobre os outros. O último que ficasse de pé seria o vencedor. Seria mais fácil e melhor que isto aqui, onde quem luta não são os verdadeiros interessados”. (p. 40).

Em contra partida a obra de Jünger mostra um soldado que crê na atividade bélica, como um “born warrior” (guerreiro nato, de nascença), em que a vida civil seria o verdadeiro martírio e sua razão de viver seria estar entre obuses e metralhadoras. Jünger juntou-se à Legião Estrangeira aos 19 anos e serviu na Grande Guerra até os 23. Os nazistas gostaram de seu livro e tentaram cooptar Jünger para suas fileiras do partido, mas o mesmo se recusou. Ele também escreveu uma distopia, “Heliópolis”. Um outro livro famoso de sua autoria é o que conta suas memórias na França ocupada dos anos 1940.



Não é por acaso que Ernst tem essa imponência. Sua vida é como um livro de aventuras, ele é a História viva. Faleceu aos 102 anos de idade, abrangeu o reich do Kaiser, a Revolução Alemã, a República de Weimar, o Terceiro Reich, depois da guerra viveu na Alemanha ocidental, e na sua última década, a Alemanha unificada, sendo um escritor e formador de opinião ativo em todas estas etapas da História de seu país.

    Ambos autores não adentram na questão histórica dos fatos que levaram ao conflito, apenas retratam a visão daqueles que nele estiveram. Se por um lado o livro “Tempestades de Aço”, ao glorificar o feito dos soldados, foi admirado pelos nazistas, o “Nada de Novo no Front” de Remarque, escrita em noites de insônia, com a desconstrução do viés romântico e heroico dos feitos de seus combatentes que sentiam a presença da morte, atolados na lama e em buracos que se tornaram as sepulturas de muitos soldados, foi perseguida. A obra foi tão crítica à guerra que durante os anos do nazismo os livros de Remarque foram queimados em praça pública. Inclusive sua irmã seria assassinada pelos oficiais da SS. Hoje o livro é uma ode ao pacifismo.

Tempestades de Aço é a obra de estreia de Ernst Jünger, o relato mistura ficção e anotações dos diários do autor. Considerado pelo premiado escritor francês André Gide como o mais belo livro do gênero, a obra perpassa toda a trajetória do autor no exército alemão, seus companheiros, as batalhas e os ferimentos aos quais um soldado precisa se submeter, contando sempre com a narrativa poética e envolvente de um dos grandes nomes da literatura alemã. A edição conta também com ilustrações selecionadas dos diários de guerra do autor. (segundo a sinopse da Cosac & Naify).

Vendo os jovens saírem das aulas na escola nos dias de hoje, felizes, piadistas, pregando anedotas, não imaginamos toda uma geração trocando cadernos e canetas por fuzis e granadas, em tempos que o reconhecimento e mérito se dava quando se tirava a vida de um semelhante, pela justificativa deste ser de uma outra nação que não fala seu idioma. Aqui não quero defender a ideia pacifista do mundo liberal ocidental, mas deixar registrado os dois livros mais importantes sobre o tema, em uma época que a guerra parecia ser o remédio amargo para a resolução de todos os problemas, mesmo nós ainda vivendo sob tensão, porém hoje temos outras formas de exalar esta violência, por mais que pareça mais trivial e menos gloriosa do que se conquistar a trincheira inimiga. 

Admirável Mundo Novo - (Aldous Huxley)

 Por: David Vega.

A obra de Orwell, “1984”, nunca sai de moda. Uma sociedade controlada por câmeras e vigilância de todos os seus cidadãos, em Oceania, país fictício onde o “Grande Irmão” (Big Brother) estava à frente de tudo, lá se tentaria apagar o passado, e reescrever a História e a língua, apontando traidores o tempo todo (muito disso foi baseado no stalinismo). Porém foi outro autor, anterior a Orwell, que teria feito uma distopia mais certeira quanto aos nossos dias atuais.

Aldous Huxley escreveu seu mais notório trabalho “Admirável Mundo Novo” em 1931. O livro conta sobre uma sociedade futurística em que as pessoas amam a sua servidão. Na trama, o doutor Foster encabeça um centro de reprodução humana; “Centro de Incubação e Condicionamento” em uma Londres do amanhã. O lema desta instituição é: “Comunidade, Identidade e Estabilidade”. Eles dividem o óvulo e chagam a produzir gêmeos em larga escala, um dos objetivos é a manipulação do período de maturação dos embriões. Se um cavalo fica maduro após 12 semanas, a infância do homem, que é mais longa, poderia ser reduzida. É a produção em série da indústria aplicada à biologia, a padronização de pessoas.

A história se passa em 632 d.F (Depois de Ford, substituíram “Deus” pelo dono da logomarca de veículos, seguidor de Taylor na produção em série). A saudação das pessoas é fazer um “T” com os braços, em referência aos carros Modelo T da Ford. Produzem seres humanos imunes ao carvão, à soda cáustica, ao petróleo e aos gases químicos, para atuarem melhor na indústria.

Na África, os embriões de negros produzem até o dobro de bebês que os dos europeus, mas seriam de baixa qualidade e intelecto (uma visão racista do autor). O segredo de tudo isso seria fazer as pessoas amarem a servidão, o segredo da virtude; amarmos o que somos obrigados a fazer, amarmos o destino social de que não podemos escapar.

O livro conta uma relação entre a assistente do Dr. Foster, Lenina e Bernard Marx (Huxley usa nomes de pensadores; Engels, Bakunin, até Rotchild), um indivíduo da casta superior que teria tido a introdução de álcool em sua formação e um defeito físico, embora fosse um Alfa Mais (a casta superior) parece-se mais com um Delta (a casta inferior). No processo de formação destas crianças, elas aprendem durante o sono, o que ele chama de hipnopedia. Tudo é moldado para fazê-las odiar as coisas que a natureza oferece de graça, o campo, a paisagem... Elas devem se ocupar mais com as coisas que têm preço, assim estimulando e aumentando o consumo. Se para ir ao campo elas precisam gastar com a passagem do transporte, essa atividade deveria ser defendida pela mídia única e exclusivamente para aumentar o lucro das empresas de ônibus, disfarçado pelo discurso hipócrita de se aproveitar a natureza, tão logo isso não desse mais lucro, haveriam de descontruir a ideia. Eles introduzem palavras sem explicação racional para inculcar as formas de comportamento, para que reproduzam sentenças sem entender o que dizem. As pessoas interiorizam e repetem milhares de vezes incansavelmente sem a compreensão de sua polissemia. Querem formar seres que julgam, desejam e decidem, constituídos por coisas sugeridas, mas são ELES, os que encabeçam o experimento, que sugerem essas coisas. É um Condicionamento do pensamento e da cosmovisão. Uma casta Alfa Mais produzida em tubos de ensaio dá as ordens à massa de Delta Menos e Ípsilons obedece.

Tanto Huxley quanto Orwell se inspiraram no livro “Nós”, do russo Iêvgueni Zamiátin. O condicionamento infantil e a narco-hipnose, são mais eficientes como instrumentos de governança do que as prisões. A família e a maternidade, não só eram abolidas, como proibidas. Citam os habitantes de Samoa, de Trobriand, que tinham a noção de ancestralidade, mas não do “pai”, a figura de “pai” e “mãe” seria abonável na sociedade “civilizada” londrina. O romantismo era visto como abjeto (o autor muito provavelmente faz uma menção à condenação da ideia de “amor burguês” pelos comunistas). O lema dessa nova sociedade seria: “cada um pertence a todos”, o indivíduo não existira, seria diluído em uma massa imperante coletivista. Os livros publicados antes da Era Fordista foram proibidos. Tentaram vencer a velhice pelos hormônios e transfusão de sangue jovem. Os velhos do passado passavam o tempo pensando, e nessa nova sociedade deveriam se rejuvenescer fisicamente para continuarem produzindo, o ócio fora removido. A significação da morte também foi superada, não seriam mais enterrados com lápides os mortos, deveriam continuar servindo mesmo depois de falecidos, então se cremavam todos e aproveitavam os gases que se soltavam no processo, para aprimorar a produção da indústria.

“Cada um trabalha para todos. Não podemos prescindir de ninguém” – Diziam.

            Reverencia delirantes em uníssono o “Orgião espadão, Ford e a alegria a rodo” na Cerimônia de Solidariedade, eles creem que todos são “felizes” e eliminaram o sofrimento entre os humanos pela razão, com essa sociedade padronizada de classes em que cada um é conformado com a sua função. Quando estão deprimidos, há a droga “soma” para que fiquem alienados, anestesiados e suportem aquela sociedade fria.

Bernard no fundo acha essa sociedade um absurdo, mas não pode exprimir a sua opinião, ele é avesso às multidões. “Prefiro ser eu mesmo” – diz ele. Ele não quer fazer parte de outra coisa, uma simples célula no corpo social. A meu ver é uma crítica ao positivismo e a ideia de função de cada “órgão da sociedade” no funcionamento do todo. O livro fica nesse impasse entre Bernard e Lenina, ele quer autonomia e ela crê no coletivismo. Durante a trama fica entre esse impasse na visão dos dois, que começam a desenvolver um sentimento mútuo, mesmo Lenina resistindo ao romantismo “bárbaro”. Huxley brinca com essa ideia da razão pura, daquilo que nos distancia da condição animal, como se ser “civilizado” fosse destruir qualquer resquício do mundo sensorial, sensível, dos sentimentos.

“Quando o indivíduo sente, a comunidade treme” – Diziam.

Bernard e Lenina vão à Reserva, no Novo México, local onde a população é considerada “selvagem”, pois não estaria no “progresso”, as crianças ainda nasciam lá, não eram feitas em laboratório, e isso era visto como bárbaro. Lenina fica horrorizado ao ver uma índia amamentando os filhos com o seio, atitude que seria selvagem – “Civilização é Esterilização” – Defendiam.

Embora soubessem ler, os anciãos do pueblo, Malpaís, tinham respostas mais categóricas. A leitura de Shakespeare é considerada imprópria, pois quem lê desenvolve sentimentos. Bernard se encanta com os selvagens e quer viver entre eles a “vida de verdade”. Para a civilização, a Reserva dos Selvagens, é um lugar que devido às condições climáticas e geológicas desfavoráveis, não vale a pena destinar recursos para “civiliza-los” (Como nossos guetos excluídos). Lenina e Bernard começam a resgatar um pouco de nossa condição de humanos sensíveis, influenciados pelos selvagens e seu “primitivismo”.

Linda, outra personagem, é vista com nojo pelos “civilizados” devido o fato de possuir aparência mais envelhecida (ninguém lá envelhece com os métodos que deixam a aparência sempre jovem), por ser mais gorda e por ser “mãe”. Um dia ela pertenceu à civilização, antes de ter ido parar em Malpaís (Reserva dos Selvagens).

Não vou contar o fim do livro, dar este spoiler, recomendo a leitura. Eu li uma edição lançada pela Folha de São Paulo, que adquiri em uma banca de jornal há uns dez anos. Huxley escreveu nos anos 60 um livro apontando quais previsões do “futuro” (trinta anos depois de lançar o livro) ele acertou, conhecido como “O Regresso ao Admirável Mundo Novo”. Muitos filmes foram inspirados nesta ideia de se louvar a razão imperante e proibir tudo que nos lembra nossa condição instintiva. Fica muito difícil dizer que apenas essa racionalidade venceu, pois o capitalismo usa nossos sentimentos para o próprio consumo, existe uma legião de psicólogos e antropólogos estudando a psique humana para se vender produtos que saciam os nossos desejos.  

O contraste entre as civilizações de “ontem” e do “futuro”, é uma das partes mais importantes do livro. E hoje amamos nossa condição de sobrepujados, nossa servidão pelo fato de termos entretenimento. Já vivemos no “Admirável Mundo Novo” desde o “Fim da Historia”, como aponta Francis Fukuyama. Mas o questionamento que deixo é, se conhecemos o domínio do mundo capitalista que se assemelha à distopia de Huxley, será que trocar pelo totalitarismo de Orwell, claramente associado ao mundo socialista, seria a solução?

Hoje vivemos tempos em que vendemos horas de trabalho por diversão em programas vazios da TV, e mesmo assim, também se tenta reescrever o passado, na intenção de produzir utopias inexistentes, estas, que produziram as maiores barbáries que já vimos. A moderação é o caminho, uma pena não haver espaço para o diálogo prudente hoje, em que os extremos falam mais alto.

quinta-feira, 25 de fevereiro de 2021

O Processo - Franz Kafka.

 Por: David Vega.



Josef K amanhece em seu quarto rodeado de homens que se dizem seus procuradores. Ele é acusado, mas não sabe o motivo. Ao longo da trama, vai tentando esclarecer sobre seu processo, mas ninguém parece ajuda-lo como deveria. Fica a percepção de que estas pessoas à sua volta sabem o motivo, mas não revelam a ele, apenas agem como etapas de um processo a qual ele é condenado. Com o tempo, o personagem passa a internalizar a situação, ele mesmo não consegue mais viver sem a ideia do processo, trona-se dependente de toda a situação, como o panóptico descrito por Foucault.

Ele tem que comparecer a uma audiência, mas não lhe informam o local e horário. Vive na pensão da senhora Grubach. Então se dirige a um prédio e lá há uma sala com pessoas sentadas em dois cantos diferentes. Dizem que chegou atrasado, mas ele se defendendo diz que jamais informaram o horário. Começa a se justificar diante de um suposto juiz e apenas as pessoas sentadas em um canto da sala o aplaudem. O livro retrata uma violação causada pela burocracia, em que as etapas do processo são mais relevantes que seu fim e motivo. Todo condenado deveria saber pelo que o acusam, mas no caso de Josef K, um simples funcionário de banco, é como se brincassem com ele. Kafka descreve que também há um público enxerido que quer vê-lo nesta jornada, como se fosse um reality show, no livro diversas vezes ele descreve pessoas comuns que cuidam da vida do acusado e se viciam nisso, até fazem apostas sobre o desfecho de seus passos, como se ele fosse uma celebridade, mas sofre com isso, apenas teria o direito de saber o porquê de tudo aquilo.

Há uma passagem que descreve o “espancador”, quando K após visitar um cartório com um juiz que diz ajudar-lhe, descobre que alguns acusados como ele, sem saberem o motivo, também apanham, o autor Franz Kafka vai exagerando cada vez mais para parecer um absurdo maior em cada desdobramento. Depois ele encontra um tio que vive no interior e diz que lá no campo ele estaria mais tranquilo, poderia repensar tudo, como se ele tivesse alguma culpa a confessar e todos esperassem isso, mas o próprio personagem não tem essa noção e jamais consegue deixar de pensar no processo, nem quando encontra uma bela moça, Leni, que inicia um caso. O livro joga com a ideia de “metamorfose”, outro título do autor, quando diz que por passar por essa coerção de um processo injusto, ele não é mais o mesmo, como se essa condição fosse o primordial para o público que quer ver ele se emaranhar mais ainda nas etapas, mas o próprio personagem, embora não queira, é o centro de tudo, e o público viciante despreza sua condição de humano, sobrepujando sua individualidade, apenas preocupado com as etapas de sua jornada, pensando no seu entretenimento e não no sofrimento de uma pessoa acusada, violada, por uma arbitrariedade que não se revela nunca, sempre oculta, mas que faz a máquina girar. Não é por acaso que após esse livro, surge o termo “Kafkiano” para designar alguma burocracia em excesso.

Josef K também não tem direito a um advogado de defesa. Há um capítulo que fala que seu processo não tem uma amplitude popular, não é aberto ao público, apesar que fica essa impressão para K. Contra o processo ele não pode se defender de uma forma legalista, pois as coisas são ditas no particular, pelas costas. Kafka chama a atenção para os funcionários do “baixo clero” que fazem parte da burocracia, menciona os advogados, muitos indiferentes com o processo em si, apenas cumprem as etapas e não possuem qualquer vínculo, indignação com o acusado (sobretudo quando este não sabe porque o condenam), eles lidam com parte do processo e não conhecem o todo, transparecendo o inumano; tirar a condição de indivíduo, é como roubar-lhe a vida e o mesmo continuar respirando.

Ainda assim, passando por essa situação, K deve trabalhar para o banco. O autor fala que as férias seriam bem-vindas, para uma tranquilidade do personagem, mas não se sabia quanto tempo ainda iria durar o processo. O fato de K ter que levar uma vida corriqueira, estando condenado dessa forma, para Kafka é uma espécie de tortura; você ser forçado a agir como se nada estivesse acontecendo, estando acusado e molestado sem saber o real motivo e quem do seu cotidiano sabe ou não de sua situação.

K considera encerrar o trabalho do seu advogado de defesa. Vai até a casa dele e encontra Leni e um comerciante. A princípio fica com ciúmes e pensa que eles são amantes, mas ao decorrer dos acontecimentos, percebe que o comerciante também é cliente do advogado. Os dois conversam, e o comerciante Block diz ter vários advogados, sobre ele cai um processo também. K parece optar sempre pela saída mais cômoda, e mesmo desprezando certo tipo de pessoas, ele confia sua história do processo a elas e se conforta com o que elas lhe dizem, mesmo sabendo que de nada adianta, que elas não podem resolver nada. O comerciante diz que seu processo não evolui, ele acredita que já leva uns cinco anos. Ele ia a todas as audiências, recolhia diferentes materiais (e diferentes petições) e acompanhava de perto, até desanimar e cogitar a ideia de que isso não teria fim.

A petição, embora fosse erudita, tinha um conteúdo nulo. Franz Kafka faz outra crítica à burocracia, dizendo que algumas eram redigidas em latim, e nem o acusado, nem os advogados, quiçá os juízes, a compreendiam. Seria toda adornada com esses procedimentos, esvaziadas de sentido. Leni tem o mesmo tratamento caloroso com todos os clientes que procuram o advogado. K acaba por descobrir que ela tem atração por homens com processos. O comerciante Block sempre procura o advogado em horas inoportunas. K. consegue ser atendido por ele. Informa que vai cancelar seus serviços quanto ao processo e o mesmo tenta persuadi-lo dizendo que o caso dele é especial, que pode resolver o seu problema etc. O comerciante é chamado à sala e é humilhado pelo advogado, como se o caso de K fosse mais relevante. Block então cita um provérbio do mundo jurídico: “Para o suspeito, o movimento é melhor do que o repouso, pois aquele que repousa sempre pode estar, sem saber, no prato de uma balança e ser pesado junto com seus pecados”. Block se humilha diante do advogado, e mal sabe que seu processo nem se iniciou, embora acredite que ao longo dos cinco anos ele já está em andamento, na esperança que esteja em vias de encerramento. Este capítulo do livro é inacabado. Block fica com Leni e dá a entender que K segue adiante com seu processo.

O penúltimo capítulo é o “Na Catedral”. K precisa viajar a trabalho pelo banco e escolhe um colega italiano por ele ser amante da História da Arte (bem incomum para homens de negócios que se preocupam com lucros apenas). Kafka menciona em uma passagem que se resignar do processo é como aceitar a pena, a culpa, então os acusados como K, mesmo impotentes diante de tudo, dão andamento às suas fases a fim de seguirem com os procedimentos (e é assim que funciona a burocracia de Estado).

K não entende tudo o que o italiano fala. Sabe-se que é um homem muito culto, apenas o diretor fala com ele de igual para igual, mas mesmo sem compreender seu discurso, K continua na conversa, embora saiba se comunicar com um italiano básico. Talvez esta seja uma metáfora ao Estado moderno, seus cidadãos entendem algumas prerrogativas, frações do “todo”, mas nunca o “quadro amplo”, embora saibam alguns de cor os seus direitos e artigos da Constituição, nunca compreenderão como alguém “de dentro”, que está imerso na máquina infra-jurídica. K é designado a acompanhar o italiano a uma visita à catedral, muito o estrangeiro tem a contribuir com seu conhecimento erudito, e K se virando em um italiano mal falado, seria como uma pessoa que tem vontade de ser culta, mas não consegue absorver o “espírito” da arte. De momento se desencontram, e ele se questiona se não ocorrera um mal entendido com o diretor quanto ao horário e a localização na catedral. Debaixo de uma chuva, desiste de encontrar o italiano. Há uma passagem que o autor questiona o motivo de dar gorjeta à igreja, do sacristão.

O sacerdote parece que ia fazer seu sermão, mas K estava sozinho na igreja, e ele se pergunta por que o sacristão faria uma missa apenas para ele, sendo que sua pessoa não representa toda a sociedade. Essa é uma passagem simbólica, como se tudo fosse voltado a ele e sua condenação. O religioso se aproxima de K e lhe diz que sabe que ele está passando por um processo. Os dois iniciam um diálogo em que coloca o personagem acusado sempre como um ingênuo sobre os desdobramentos do acusação; o padre pergunta se ele sabe como tudo irá acabar, o mesmo responde não saber, nem mesmo o sacerdote pode dar esta resposta. A lei deveria ser acessível a todos. O sacerdote usa a metáfora de que se você é proibido de entrar em um edifício, há um porteiro que controla a entrada, e isso pode provocar em ti uma vontade maior de quebrar as regras, até o mais baixo executor do sistema tem poder sobre você. Ao entrar neste suposto prédio, cada sala dos andares tem um porteiro que as guarda. O caminho da burocracia é imenso. A atitude do porteiro é como do micropoder, da vigilância horizontal, ele se sente poderoso na relação de poder que permite a ele controlar quem pode entrar. O fim dos serviços, ocorre com o fim da vida do homem. Executa ordens sem pensar, é apenas um fragmento do todo, nem compreende o macro, mas ainda assim é um servo fiel à sua função. O sacerdote é o capelão do presídio, o que diz muito também.

No capítulo final, dois homens partem para a casa de K e levam-no a uma cabana em uma pedreira. Tiram uma faca e a cravam no peito de K duas vezes. Kafka joga com a ideia de que ele talvez quisesse se suicidar, e na esperança de saber o final de seu processo, teme em querer que ele se inicie de novo, pois já não sabe mais viver sem ele. Se podia ser morto, era melhor do que se matar. O livro se encerra abruptamente em um capítulo curto, como se o autor quisesse terminar logo a história, não revela o propósito da condenação e muitos dos capítulos da obra são inacabados. Mas talvez seja esta a intenção de Kafka, pois a burocracia é ela esvaída de sentido. K morre com a punhalada, e antes de cair ao chão fica com a preocupação e que seu exemplo fosse uma vergonha que pudesse perpassar os tempos; a vergonha de sua existência e vida desgraçada.

Alemães na África - (Coleção Renes) - Roger Sibley

Por: David Vega.



Relendo alguns números da coleção Renes. Neste fascículo, fala da colonização alemã da África. A antiga África Oriental Alemã, que ficava entre a britânica ao norte e a portuguesa ao sul (atual Moçambique) englobava as atuais Uganda, Namíbia e Tanzânia. Durante a primeira guerra mundial batalhas ocorreram nestes territórios, curioso é que a rainha da Inglaterra chegou a presentear a Alemanha antes da guerra com o monte Kilimanjaro. Havia o general Paul Von Lettow Vorbeck, veterano do conflito dos Boxers na China, era amado inclusive pelos nativos Askaris, de maioria étnica suaili (swahili), tropas negras no exército alemão que enfrentaram os britânicos e indianos no desembarque do lago Tanganica, na Batalha do Tanga. Vorbeck além de gênio militar era sortudo, tinha a deusa Fortuna a seu favor, pois um enorme enxame de abelhas atacou os indiano-britânicos e foram derrotados.

Ele terminou a guerra sem nenhuma derrota, voltou à Alemanha como herói, Hitler tentou convencê-lo a se unir no partido nazista e ser seu general nos anos 30, mas Vorbeck era antinazista e antirracista, pois tivera soldados negros sob seu comando, ele acreditava que o império global alemão não deveria subjulgar os demais povos, e sim assimila-los, integra-los. Chegou a criar um partido de oposição ao nazismo, mas não teve muito sucesso. Até hoje o nome Paul Von Lettow Vorbeck dá nome às ruas e escolas da Namíbia. Diferente do genocida Rei Leopoldo da Bélgica, embora tivesse ocorrido massacre em território alemão também, Vorbeck foi um líder estrangeiro amado pelos nativos, muitos que eram voluntários em suas fileiras.

Terminada a guerra, as colônias alemãs passaram para domínio inglês pelo Tratado de Versalhes. O idioma inglês hoje é o falado e o alemão se tornou segundo idioma nestes países (além do idioma nativo). A Namíbia é um dos melhores países da África, com IDH e economia de primeiro mundo. Lula cometeu uma gafe quando estava na presidência ao visitar o país, dizendo: "por ser um país africano até que é limpinho", comentário preconceituoso. O Congo teve um genocídio, Ruanda graças à intervenção europeia que favoreceu os Tutsis, teve um massacre pelos Hutus. Mas por que nunca se fala disso?

Lutando na Espanha - George Orwell

Por: David Vega.

O que faz um jovem britânico deixar o seio familiar, o conforto de uma Londres progressista e livre, mesmo tendo um poder que se alterna entre trabalhistas, liberais e conservadores – último reduto da democracia na Europa dos anos 1930, cruzar os Pirineus franceses para viver atolado na lama junto de campesinos pobres, mal equipados, em total desvantagem, no meio de piolhos e ratos na guerra contra o general Franco e seus falangistas?

A Guerra Civil Espanhola foi o ápice de uma sucessão de acontecimentos desde o século XIX. O país passou uma breve experiência republicana (1873 – 1874), deixando descontentes setores monárquicos do país, sobretudo após a restauração bourbônica, o que desagradou os Carlistas fiéis à linhagem real dos Habsburgos. 

Goya já retratava em suas telas uma Espanha dividida. A tentativa de modernizar uma nação ainda na “Idade Média”, com o avanço e a importação do liberalismo inglês e francês em uma sociedade altamente católica e ainda analfabeta, fez destes primeiros republicanos, sobretudo nas regiões industriais da Catalunha e do País Basco, aderirem ao anarquismo e ao comunismo soviético nos anos 1920. Porém a turbulência culminou no golpe de Estado de Miguel Primo de Rivera (seu filho, Jose Antonio seria o líder do partido fascista Falange, assassinado por comunistas na prisão em Alicante). Após um breve Estado de exceção, a figura do rei Alfonso XIII foi ambígua. Apesar de deposto em 1931, quando foi proclamada a Segunda República Espanhola, que duraria até o ano de 1936, progressistas e conservadores voltariam a polarizar uma nação que desde a geração de 1898, pessimista, após a derrota na guerra contra os Estados Unidos e a perda de Cuba, Porto Rico e Filipinas, tentou viver de um passado imperial de glória há muito tempo não vista.

A elite aristocrática apoiava secretamente um levante militar contra a República de Manuel Azaña. O líder da Direita, Calvo Sotelo, foi assassinado por pistoleiros comunistas como retaliação da morte do tenente Castillo por falangistas fascistas. As eleições de 1936, com a vitória da coalizão de esquerda Frente Popular, fez os militares se sublevarem e darem um golpe que dividiu a Espanha, dando início a uma guerra civil que produziu um saldo de 1 milhão de mortos e consolidou a ditadura do General Francisco Franco, apoiado pela Itália de Mussolini e a Alemanha nazista.

            A revolução espanhola foi a mais romântica de todo o século XX. Considerada um prelúdio do que seria a Segunda Guerra Mundial, escritores e artistas do mundo todo deixaram o conforto de casa para morrer por seus ideais em uma terra longínqua; Ernest Hemingway e Pablo Neruda foram os nomes mais famosos (que não pereceram no conflito), mas há uma outra figura que pouco se fala, o escritor George Orwell (cujo nome era Eric Arthur Blair).  

Exageradamente alto e de rosto com feições firmes, Orwell era muito diferente dos espanhóis, mas como sempre foi socialista, partiu para a frente de Zaragoza na província de Aragão e juntou-se à milícia do POUM (Partido Obrero de Unificación Marxista) de tendência trotskista. Esta experiência rendeu-lhe o célebre livro Homage to Catalonia (Homenagem à Catalunha, cujo título no Brasil é Lutando na Espanha e Recordando a Guerra Civil).

            Orwell relata as condições insalubres das trincheiras, o fato de na milícia as mulheres lutarem lado a lado com homens de objetivos diversos; nem todos seriam simpatizantes do anarquismo catalão, havia também separatistas entre eles, mas em 1937, os stalinistas perseguiram os trotskistas, deixando o POUM na ilegalidade e prendendo seu líder Andrés Nin.


Isso culminaria em uma "guerra civil" dentro do bando republicano. Os anarquistas aboliram o dinheiro oficial (a peseta) e criaram uma moeda paralela, bem como tomaram o prédio das comunicações e controlaram as linhas telefônicas. Orwell chegou a ser ferido com um tiro no pescoço, o que lhe afetaria a voz. Muito da decepção das medidas totalitárias de Stalin inspirou ele a condenar um Estado único ditatorial, o que muito provavelmente serviu de combustível para seu livro conhecido 1984, além da metáfora da URSS no outro famoso A Revolução dos Bichos (Triunfo dos Porcos em Portugal). Também nesse ano em questão a cidade basca Guernica foi destruída pela aviação nazista, ganhando o mundo pela famosa obra de Pablo Picasso.

A experiência de George Orwell teve uma versão cinematográfica, que embora não seja totalmente fiel ao livro, conta com precisão a briga entre trotskistas e stalinistas, o filme "Terra e Liberdade" (1995) do ilustre diretor britânico Ken Loach.

Recomendo a leitura do livro antes de se ver o filme. O assunto sempre me interessou muito, pois meu avô paterno lutou na Guerra Civil Espanhola, além de termos tido brasileiros em ambos os lados; integralistas que se juntaram às fileiras franquistas, e comunistas após a Intentona de 1935, que foram exilados, do lado da esquerda, um notório foi Apolônio de Carvalho, que depois da guerra juntou-se à Resistência Francesa na Paris ocupada e foi um dos fundadores do Partido dos Trabalhadores (PT) nos anos 80 - há uma biografia sobre ele chamada "Vale a pena Sonhar".

Outros ensaios de Orwell sobre o fascismo que ele vivenciou na Espanha estão em uma edição da Companhia das Letras "O que é Fascismo?", relançada em 2017, onde ele faz resenhas de livros e filmes, como O Grande Ditador, do Chaplin.

Tempos de outrora, em que se morria por ideais, embora se tenha produzido os maiores horrores da História. A política fria, tecnicista e pragmática atual carece das grandes façanhas, estas que fazem a gente ter apreço por pertencer à espécie humana.

Leões e Cordeiros (Lions for Lambs)

 Por: David Vega Leões e Cordeiros (Lions for Lambs), filme de 2007 que faz um retrato da política externa americana. Lembro-me de ter ouvid...