A
literatura não é isenta de ideologia, seja aquela que foi criada para legitimar
o poder do imperialismo, ou aquela decolonial visando “descolonizar o entretenimento”.
Bem, no século XIX a Inglaterra depois da Revolução Industrial alcançou a sua
Pax Britânica, sendo a senhora do mundo com um império em que o sol nunca se
punha.
A
partir daí, a antropologia surge na intenção de se estudar povos nativos dos
rincões do mundo que ela visava anexar, mas com um método comparativo. O
racismo científico tentava legitimar a introdução do modus vivendi europeu para
povos no “obscurantismo” em um suposto total desespero. Paralelo às novas ciências,
a literatura de aventura e ficção, influenciada pelos relatos de povos exóticos
começa a se insurgir. Já havia figuras como Julio Verne e clássicos como “A Ilha
do Tesouro”, mas foi Henry Rider Haggard, após uma aposta com seu irmão, que
escreveu “As Minas do Rei Salomão”, obra que viria a inspirar autores como Sir
Arthur Conan Doyle (do Mundo Perdido e Sherlock Holmes) e os filmes de aventura
do século seguinte, com a narrativa do branco colonizador, substituído pelo
americano herói como os filmes de Charlton Heston e o próprio Indiana Jones.
Allan Quartermain resgata a mítica dos heróis igual Ulysses, Aquiles ou as epopeias gregas. Mas há uma leitura feita pela psicanálise também, que os penny dreadful da época (leitura do baixo clero) deixavam transparecer uma sociedade reprimida pela Era Vitoriana, com mapas que representavam o corpo da mulher e os famosos “Templos da Perdição” (igual n o filme do Indiana Jones) que poderiam metaforizar o órgão genital feminino. A rainha Gagula, feiticeira tirânica dos kakuanas, traz uma imagem caricata da mulher, dizem que Freud recomendava a leitura do livro aos pacientes, mas confesso não me entusiasmar muito com essa ideia fixa de querer encontrar manifestações do inconsciente em tudo, além de levar sempre para o caminho da sexualização. Fato é, que livros como As Minas, mas também Tarzan, Mogli – O Menino Lobo (O Livro da Selva), O Fantasma, Tintin e outros que crescemos lendo ou assistindo, trazem muito mais uma mensagem implícita do que apenas a “ingenuidade” de se contar a história de um herói. As primeiras edições do livro de 1885 foram traduzidas por Eça de Queirós, mas ele ocultou e reescreveu muitas passagens, sobretudo aquelas que difamava o povo português, uma versão completa e mais fiel ao original foi recém lançada pela editora Todavia no Brasil. Aqui, deixo um comentário mais aprofundado sobre o tema:
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